As relações são como uma dança, com energia visível a correr de um parceiro para o outro. Algumas relações são uma dança de morte lenta e obscura.
Colette Dowling
Kant (1797) insistiu que o amor patológico (amor que envolve uma emoção passiva) era inferior ao amor prático, uma ligação ativa ao bem dos outros, com emoções de respeito e preocupação.
O amor patológico surge quando se priorizam as atividades de cuidar e prestar atenção de forma excessiva e sem controle ao ser amado, com a intenção de receber o seu afeto e evitar a perda, gerando danos emocionais ao próprio e aos que estão próximos. Nem sempre a pessoa consegue identificar o problema, mesmo diante de evidências concretas de que está sendo prejudicial para alguém.
O amor levado a um extremo pode conduzir ao sofrimento e ao descontrolo, podendo ser considerado uma dependência emocional (O amor é cego.), pois depende-se do outro e da relação para encontrar um sentido na sua vida. Este tipo de relacionamento é uma obsessão gradual em que a pessoa deixa de viver, tornando o parceiro o único foco da sua vida. Estas pessoas tornam-se impulsivas e compulsivas, fazem tudo para manter e controlar a relação, nada pode falhar, sentem sempre um medo constante de perder o outro.
Estudos constatam que o padrão de Amor Patológico, afeta mais a população feminina. As mulheres tendem a enfatizar mais os comportamentos amorosos, considerando o relacionamento como uma prioridade da vida. Mesmo em prejuízo emocional, sentem dificuldades em desligar-se da relação e relacionam a intensidade do sentimento com o nível de sofrimento e sacrifício.
Caraterísticas do amor patológico:
Diminuição de interesses pessoais e progressivo isolamento.
Preocupação excessiva e sofrimento com a ausência do outro (ex. excesso de contatos).
Controlo e ciúmes excessivos.
Tendência a ter discussões e dramas (antecipação de situações catastróficas e negativas).
Sentimentos de abandono, solidão e insegurança na relação (medo de ficar sozinho).
Depressão, ansiedade, alteração de padrões de sono, distúrbios alimentares.
Abuso físico e/ou emocional.
Tentativa de mudar o outro à imagem dos padrões idealizados.
Procura de milagres externos para resolver os problemas na relação.
Exigências e promessas para obter amor incondicional.
Jogos de poder (manipulação) para manter a desigualdade na relação.
A dependência emocional é progressiva, isto é, à medida que que há mais disfuncionalidades, a pessoa reage de forma mais intensa à pressão, tornando os comportamentos destrutivos na relação em hábitos/padrões de pensar, sentir e agir geradores de mais sofrimento. Este tipo de relacionamento pode ser equivalente à perda de autoestima e da capacidade de raciocínio e juízo crítico.
O autoconhecimento é fundamental para a aceitação de situações de dependência. Podemos considerar que o dependente emocional sente medo de trabalhar o seu próprio vazio: inconscientemente procura no exterior à aprovação e amor que não existe dentro de si e, em simultâneo e de forma paradoxal, teme-se a intimidade e a partilha de sentimentos.
As pessoas com este tipo de problema têm dificuldades em:
reconhecer as suas emoções, necessidades e vontades;
estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos afetivos;
reconhecer e responsabilizar-se pelo comportamento disfuncional;
controlar-se emocionalmente e comunicar de forma assertiva;
valorizar-se e sentir-se merecedor de amor.
Não podemos viver na fantasia de que existem pessoas perfeitas e que os relacionamentos são como os contos de fadas, pois todas as relações sofrem dificuldades e situações de crise. O que promove a relação amorosa saudável é a partilha de valores, como a confiança, intimidade, liberdade, respeito e desapego, residindo aqui a chave para o sucesso de uma relação a dois.
Um relacionamento saudável é uma parceria sentimental que visa o bem-estar dos dois, onde ambos crescem dentro da relação e em que cada um tem em consideração as particularidades do outro.
Nem um individualismo exacerbado, nem a abnegação de si devem estar presentes numa relação.