Os psicólogos exercem a sua atividade profissional em contextos diversos e abrangentes, provando que em todos eles, através de um trabalho multifacetado, é possível tornar mais saudável as relações humanas e contribuir para a saúde mental da população.
Convém salientar que o conceito de saúde mental não se limita à ausência de doenças mentais e que a ausência destas ditas doenças não implica ter saúde mental. Para clarificar o conceito saúde mental, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define-o como: “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere”.
Com base nesta perspetiva positiva o atendimento em qualquer área da psicologia tem de ser centrado na totalidade da pessoa. O principal elemento regulador do estado de bem estar está na relação e não no isolamento, pois ninguém pode transformar ninguém, mas ninguém se transforma sozinho.
Esta visão abrangente da psicologia não se restringe ao tratamento dos sintomas, mas apresenta como finalidade principal a adaptação pessoal, social e a liberdade interior. Pode e deve diminuir o preconceito e a vergonha em procurar um profissional de saúde mental.
“Uma pessoa autónoma não age como a maioria das pessoas que vive como se “o seu corpo estivesse ao volante e o espírito à porta do escritório”, Eric Berne.
Nos dias atuais de constantes mudanças e ritmo veloz, as rotinas aprisionam e o tempo escapa, emergindo “novas dores”. Muitas vezes tentamos resolver nossos problemas sozinhos, outras vezes deparamo-nos com situações em que o nosso corpo não consegue reagir.
“Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda”, Clarice Lispector.
A psicologia não tem as respostas para as dificuldades e angústias que abalam as pessoas, por isso quando se procura um psicólogo, este não vai dar conselhos nem julgar, pois o que pode ser o certo para mim, pode não ser para outro; o que é considerado normal nem sempre é o mais saudável. Estando presente, empático, compromete-se profissionalmente ao pedido de quem o procura para se sentir bem consigo, com a vida e com os outros.
Todo ser humano é único, complexo e criativo. É uma falsa segurança sentirmo-nos bem por sermos iguais a tantos outros. A atuação do psicólogo tem de ser integral e orientada para as particularidades do paciente. Tem de compreender a subjetividade do outro e isto envolve mais do que simplesmente os sintomas referenciados, pois nem sempre aquilo que o paciente se queixa é a verdadeira causa, nem sempre o que ele expressa verbalmente é a sua real necessidade.
“Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo, e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der”, Carl Jung.
O papel deste profissional é compreender e auxiliar o outro no processo de ressignificação do dito sintoma. Através de uma relação intersubjetiva, iniciam uma viagem a dois, a desconstrução começa e a análise torna-se mais abrangente. Muitas vezes o que acontece ao identificar um problema, sem rótulos mas com outro significado, há uma repercussão imediata em alterações corporais, o rosto relaxa e o peso torna-se mais leve. Sentindo que não está sozinho, pois outros sofrem a mesma dor, apenas apresentam o sintoma com outras roupagens.
A terapia pode começar através de uma atividade guiada para um problema específico e entrar, logo de seguida, no processo de autoconhecimento.
“Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor sentir.”, Clarice Lispector.